É incrível que em dezembro parece que, mesmo sem todo mundo querer, vira uma chave na cabeça das pessoas. Li recentemente que em dezembro todo dia é sexta. Não sei se concordo 100%, mas de fato faz um pouco de sentido. As pessoas começam a mudar o humor, refletir sobre o ano, pensar em presentes para o Natal e até em planos para o ano seguinte.
Problemas que sempre existiram de repente ganham mais ou menos destaque e o que importa é celebrar o espírito natalino.
Todos os dias, semanas e meses encerramos ciclos, podemos refletir sobre o que foi feito e no dia seguinte ou na semana seguinte podemos fazer algo diferente. Mas empurrados pela ideia de que durante o ano tudo tem que ser corrido porque é o correto (já falei sobre isso nesse texto aqui), todas essas reflexões ficam para dezembro.
É nesse período que a maior parte das pessoas começa a pensar mais sobre o que deve fazer com seu trabalho, seu relacionamento, sua convivência familiar, aquele problema que ainda não está resolvido. E, talvez o mais importante, como e com quem vai passar as datas festivas.
O clima de Natal
Não sou uma pessoa religiosa e não gosto muito dessa época de final de ano. Mas independente disso é difícil ficar imune a todo esse período. Você que está lendo esse texto e talvez também não goste tanto ou não seja uma pessoa religiosa também vai concordar comigo.
O mês todo, desde os primeiros dias de dezembro, somos bombardeados com campanhas e mais campanhas sobre o tema, ofertas e descontos para a compra dos presentes, cidades cheias depois do dia 20 e um clima, em teoria, mais tranquilo no rosto das pessoas.
É claro que é ótimo conseguir ficar tranquilo e ter momentos de alegria e felicidade independente da época. Fico pensando e até em conversas com amigos o quanto essa busca por aproveitar o período ao máximo também não é uma forma de esconder ou ignorar um pouco o vazio que sentimos ou os problemas que sempre estarão ali nos esperando, sem pressa, para que mais cedo ou mais tarde questões sejam resolvidas.
O tempo todo você vai ver alegria, felicidade estampada no rosto das pessoas. E pode ser que internamente sinta mais tristeza, angústia. O que acaba exercendo uma pressão interna muito maior, o que pode te deixar culpado e triste, quando na verdade deveria estar feliz. São coisas que acontecem muito, mas que diante do espírito natalino não podem ser comentadas.
Quem não quer entrar no clima, não tem opção
Como o tempo todo somos lembrados do final do ano, época de reflexão e do espírito natalino, isso mexe com nossa família também e todas as pessoas próximas, é claro. Então mesmo se você quiser passar o Natal sozinho, ir para a praia ou passar com amigos, talvez não tenha essa possibilidade.
Isso porque como a propaganda X diz (pense em alguma que aparece para você), o Natal é a época da família, onde todos se reúnem e celebram a união e a alegria por mais um ano vivido. Então pode existir uma pressão familiar em torno disso também.
O ciclo e a segurança
Cada dia que passa é um novo ciclo. Ou, como dizem os coachs, uma nova oportunidade de fazer a diferença. E de fato sim, cada dia um ciclo se encerra. Ficamos um dia mais velhos, temos mais um dia de trabalho ou folga para encarar e a vida segue. Todas as semanas e meses a mesma história.
Mas como não se comemora uma nova semana ou um novo mês, o final de ano assume esse papel de fim de ciclo. As pessoas querem ter uma certa sensação de controle, uma previsibilidade da vida. E então se no final do ano não se sente feliz com a vida que teve nos 11 meses anteriores, é melhor deixar tudo para o ano seguinte.
Anotar as metas ambiciosas, colocar uma roupa branca no dia 31 de dezembro, celebrar muito e acreditar que a partir do dia primeiro de janeiro tudo começa novamente e tudo vai ser diferente. Mesmo na maioria dos casos sabendo que de um ano para outro não mudou nada, essa é a ideia central que faz parte do imaginário popular.
E é claro que ao olhar pessoas próximas ou outros exemplos, a grama do vizinho sempre será mais verde. Enquanto vai parecer que você não fez muita coisa no ano, talvez outra pessoa que você olhe fez muito e assim você se sente mal. Mas o importante é que um novo ano é uma nova oportunidade.
Quando era criança, na minha casa todos escreviam no dia 31 coisas que queriam fazer no próximo ano, guardavam e só abririam no dia 31 do ano seguinte. Assim em cada ano conseguiria ver o que tinha conseguido ou não fazer. Por ser criança, não tinha grandes metas. Passar de ano na escola, conseguir algum brinquedo ou algo do tipo eram os grandes objetivos. Já o que meus pais escreviam e pediam, eu até hoje não sei se aconteceu. Mas era o tal do ritual.
Faça uma limpa em seu armário
Eu acho até engraçado isso, mas talvez seja algo particular mesmo. Nesse período uma das grandes dicas é fazer uma limpa no guarda-roupa, tirar o que não usa e doar para começar o novo ano com energias renovadas.
Tenho poucas roupas e compro novas só em caso de necessidade. Duas prateleiras do guarda-roupa tem todas as minhas roupas e ainda sobra espaço.
E sempre que eu vejo que não estou usando uma roupa ou que não serve mais, separo para doar, independente do mês.
Talvez eu seja uma exceção, mas não gosto de comprar roupas sem pensar para só deixar guardado. Mas se é o seu caso, será que durante todo o ano em nenhum dia foi possível ver que determinada peça de roupa não seria mais usada para doar? Pessoas necessitadas precisam de roupas todos os dias e não só em dezembro, quando aqui no Brasil normalmente faz calor.
Você abriu seu guarda-roupas, escolheu determinada peça e viu várias outras que nunca são usadas. Mas não fez nada, mesmo sabendo o que deveria ser feito. Mas em dezembro, no espírito natalino, de repente você sabe o que fazer? Acho no mínimo curioso.
Aproveite e relaxe no seu fim de ano
Eu fico refletindo sobre assuntos aleatórios todos os dias. Inclusive sobre o final de ano. E aqui trouxe um pouco de minhas percepções.
Não sou uma pessoa negativa e que critica tudo. Apenas acho que todo assunto merece uma reflexão mais profunda e esse tema de final de ano também. É complexo, envolve questões familiares, rituais, religião e o encerramento de um ciclo, o que pode acabar deixando algumas pessoas mais tristes e pressionadas, já que não fizeram nada de expressivo durante o ano.
Se você é essa pessoa, fique tranquilo. É só um ano que está terminando e você vai dormir dia 31, acordar dia 1º e vai ter sol, talvez chova, igual a todos os dias. Nada vai mudar além do dia.
Acho muito perigoso e triste quando uma pressão tão grande é colocada nas pessoas sem que elas estejam preparadas para isso. Ou até mesmo queiram receber esse tipo de pressão.
Eu nem falei aqui da questão de ter que encontrar parentes e pessoas próximas que não queria ver nesse período de final de ano, o que também é uma questão.
Fique tranquilo e dentro do possível e do que quiser fazer aproveite esse momento. E também se não quiser aproveitar, sem problema algum.
Depois do Natal as cidades ficam um pouco mais vazias, há um silêncio gostoso para quem não vai viajar e se você gosta disso também pode aproveitar de alguma forma. O importante é tentar (pelo menos tentar) fazer com que esse período não seja de sofrimento. Se conseguir, esse já é um excelente começo.
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