A melhor companhia que podemos ter na vida é a nossa. Essa frase pode parecer clichê, mas de fato é a realidade. Quem melhor do que nós mesmos para lidar e conviver no dia a dia, entender nossos gostos, o que queremos e como fazer determinadas atividades? Mesmo com uma boa convivência com a família, casando, com filhos, a maior parte do tempo viveremos com nós mesmos. Então isso faz total sentido.
O problema é que na prática não damos nem de perto a devida importância para isso. Lidar com nossa própria companhia, nossos medos e angústias é, na verdade, muito, mas muito complicado. Certamente você já se sentiu sozinho em um sábado ou domingo no fim do dia, já se sentiu mal por estar muito tempo sem conviver com alguma pessoa. E talvez não utilizou as melhores saídas para lidar com isso e comeu aquele chocolate ou tomou algo alcoólico.
Essa é uma grande questão e que infelizmente não é muito discutida. Não falar disso parece, ao meu ver, justamente esse medo de encararmos de frente o que pode nos dar medo, nos paralisar e fazer com que possamos ter até algum tipo de sofrimento: é o medo de encarar nós mesmos.
Mas de que forma podemos e devemos lidar com isso? Será que há um caminho mais indicado a ser seguido?
Lidando com nós mesmos
Estou trabalhando presencialmente desde o início de junho, depois de quase oito anos de home office. Moro sozinho e agora todas as vezes que chego no meu apartamento e abro a porta, me deparo com o vazio do espaço e minha cabeça preenchida de pensamentos. Afinal, a partir daquele momento até chegar ao trabalho no dia seguinte vou precisar, de uma forma ou outra, lidar com a minha própria companhia.
Ouço música, janto, deixo a comida para o dia seguinte separada, lavo e dobro roupas, tomo banho. Faço tudo que é possível de ser feito dentro de casa. Mas é claro que em vários momentos eu preciso lidar com toda essa situação de estar com minha própria companhia. Confesso que também ainda não é algo 100% resolvido e maravilhoso. É um processo, de um dia de cada vez, mas que cada vez mais tenho tentado lidar e aprender com tudo isso para ter uma vida mais leve e com menos sofrimentos.
Lembrando sempre daquele papo de que se eu não gostar da minha própria companhia ninguém vai gostar. O que é clichê sim, mas que faz total sentido.
E sim, o autoconhecimento é a chave. Sabemos disso e pesquisando sobre o assunto vamos encontrar milhares de conteúdos sobre isso. Não querer ficar sozinho basicamente é nosso cérebro evitando enfrentar de frente nossos próprios defeitos, nossas dificuldades. E sempre procurando algo externo para negar tudo isso.
Mas então, de fato, o que fazer? Essa é uma pergunta muito difícil de responder. Até porque para cada pessoa uma saída diferente pode ser necessária.
Para me ajudar nesse tema tão necessário e difícil, mais uma vez procurei a minha amiga querida e psicóloga Renata Garcia. Com todo seu trabalho e atendendo pessoas diariamente, sabia que ela poderia clarear nossas ideias com seu ponto de vista profissional sobre o assunto.
Segundo a Renata, é comum nos sentirmos mal quando estamos sozinhos porque a solidão tem uma conotação negativa, pesada, de ser uma condição, um castigo.
“Quando crianças, a gente via que quem se comportava mal ficava de castigo SOZINHO, e isso era terrível, pois significava que a gente não era querido naquele momento.
Ligamos muito a solidão à sofrimento, à patologia. A gente tem medo de ficar sozinho no fim da vida e do que isso significa para os outros – que não somos bons, amados, que ninguém gosta da gente – e do que isso significa para a gente mesmo.”
A questão do julgamento é muito bem lembrada pela Renata, que na conversa me comentou que temos, por exemplo, medo de irmos sozinhos ao cinema, pensando o que as pessoas vão achar da gente. E por isso tentamos sair da solidão sempre que for possível por meio das coisas que vamos fazendo no nosso dia a dia.
Uma das melhores formas de fazer as pazes com essa solidão, como a própria Renata me disse, é mergulhar profundamente nela. Precisamos ressignificar isso, tirar esse peso negativo que costumamos dar e nos abrirmos mais para o tão falado autoconhecimento. E também, claro, praticarmos o amor próprio.
“Além disso, a gente nunca está sozinho, está sempre na nossa companhia e com a companhia do outro que existe em nós e vemos pelos nossos pensamentos, crenças, falas. É muito difícil lidar com a nossa própria companhia porque não aprendemos a fazê-lo, não fomos ensinados a olhar para dentro e a gostarmos de ficar sozinhos. Fomos acostumados a tapar buracos, como o silêncio, o tédio, com jogos, falar, TV, música.
A gente morre de medo do que vai encontrar (como se já não soubesse) se estivermos a sós com a gente mesmo, se a gente olhar no fundo do nosso olho e ver o que tem ali. Estar sozinho não precisa ser um sofrimento, mas pode ser um descanso, um alívio, uma possibilidade de se fortalecer mais por meio do autoconhecimento.”
Como se sentir melhor nessa situação
Quem consegue ficar sozinho sem sofrimento e ser feliz com sua própria companhia sofre menos. Isso é fato. Estar sozinho e se sentir sozinho são duas coisas diferentes, que a Renata também me citou em nossa conversa.
“O primeiro passo para lidar melhor com isso é encarar a solidão de forma diferente. Entender os medos, os fantasmas que existem por trás dela e o que ela significa e traz à tona para você.
Trabalhar isso e entender que solidão é um problema dependendo das vivências que você tem em relação a ela e das crenças e do que você acha que o outro acha sobre isso.
Quanto você se conhece? Qual seu objetivo em ficar sozinho e quando está sozinho como e quanto aproveita a sua companhia? Você sabe FICAR SOZINHO mesmo ou fica ansioso, procurando tamponar essa possibilidade, se distraindo o tempo todo?”
São todas questões importantes e muito bem pontuadas que precisamos pensar ao refletir sobre esse assunto. Quem consegue aproveitar bem sua própria companhia também vai, segundo a Rê, se relacionar ainda melhor, escolher seus caminhos com mais facilidade, gostar e valorizar quem é. E assim aprender sempre que não precisamos estar com uma pessoa para estarmos bem. Essa sensação de bem-estar começa dentro de nós.
Em um mundo cada vez mais individualista, com mais compromissos e obrigações para cumprirmos, acabamos ficando ainda mais isolados. Por isso se torna tão importante pensar e refletir sobre toda essa questão de lidar com a própria companhia.
Trouxe esse ponto de vista da Renata para mostrar que de fato é algo que em algum momento vamos precisar lidar e de que formas podemos levar essa situação de forma mais leve e tranquila.
A partir do momento que nos sentirmos bem com nós mesmos tudo vai ficar mais fácil e nossa vida será ainda mais feliz. Que tal pelo menos começarmos a tentar colocar isso em prática? Aos poucos vamos sentir os resultados. Me conta como você lida com isso e como é a situação para você.
Esse é mais uma vez só o início dessa importante conversa.
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