Vendi meu carro há mais de três anos. Foi uma das melhores decisões que tomei na época e continuo achando que foi uma boa ideia ter vendido. Eu usava muito pouco, o gasto era alto e não fazia sentido continuar com ele.
Foi um longo processo, experiências para a vida sobre vender um carro que são no mínimo impressionantes. Morava na época em Caxias do Sul – RS, minha família e amigos mais próximos estão em Farroupilha, cidade vizinha, e por aqui não temos metrô. O que restava era andar de ônibus. Hoje já estou morando novamente em Farroupilha e a situação é diferente.
Mas acredito realmente que se mais pessoas andassem de transporte público, ele seria melhor, as cidades mais tranquilas, menos barulhentas e poluídas e todos sairiam ganhando. Mas claro que não é o que acontece.
O dia a dia de uma pessoa sem carro
É até engraçado pensar nisso, porque para alguns parece algo tão distante. Mas sim, existem pessoas que não tem carro e sobrevivem tranquilamente. Faço praticamente tudo a pé, vou ao mercado, farmácia, médico e padaria sempre caminhando e não tenho problemas com isso. Até escrevi um texto recentemente mostrando o quanto morar perto do Centro não é mais necessário. Se você trabalha em casa, tudo que precisa pode ser entregue na sua residência. Um carro se torna ainda menos importante. Mais para passeio. E nesse caso alugar um carro ou chamar por aplicativo vai valer ainda mais a pena.
Na época que vendi meu carro, um Palio ano 97, a experiência que tive foi desafiadora, para dizer o mínimo. O ato de vender um veículo por conta própria anunciando pela internet é cheio de experiências e percepções que ficam para a vida toda.
Ninguém lê o que está escrito no anúncio, a maior parte das pessoas quer dar uma moto na troca, alguns oferecem outros itens como bicicletas e videogames. E muitas pessoas ficaram sem reação ao descobrirem que eu estava vendendo meu carro para não comprar outro logo depois. Mas isso talvez seja assunto para outro texto.
O fato é que o uber e outros aplicativos de transporte resolvem muito bem a maior parte dos trajetos. Mas em uma cidade pequena, com poucos motoristas de aplicativo, não é bem assim. Sem contar as situações do dia a dia que vou relatar melhor ainda nesse texto.
Pegar um carro por aplicativo
Que bom que essa opção existe. Além de ser mais barato que um táxi, é mais prático. Quando morava em Caxias, cidade com quase 500 mil habitantes, isso era muito tranquilo. Para qualquer lugar que fosse, um uber me levava e o valor era baixo. Moro no momento que escrevo esse texto em Farroupilha, cidade com cerca de 70 mil habitantes.
Por mais que não seja tão pequena, tem cara de interior e poucas pessoas que trabalham como motoristas de aplicativo. Durante o dia não são mais que cinco carros que aparecem quando você abre para solicitar uma corrida.
Nesse momento entram as complicações. Acontece quase todas as vezes. Se a corrida for muito curta, na maior parte das vezes ela é cancelada. O motorista avisa por mensagem que não vai ir e cancela. Caso seja uma corrida mais longa, como ir para a cidade vizinha Caxias, isso também acontece.
A corrida é cancelada e a espera para conseguir se torna quase um golpe de sorte. Por mais que não seja padrão dos aplicativos permitirem os cancelamentos, isso acontece e não tem muito o que fazer além de reclamar.
A experiência de pedir carona
É comum ouvirmos o tempo todo alguém pedindo se precisamos de ajuda. É algo do cotidiano, da mesma forma que nos perguntam se está tudo bem. Mas somente quando precisamos dessa possível ajuda é que vamos entender quem realmente quer nos ajudar.
Tenho poucos amigos que sei que se eu pedir uma carona não vão negar e nunca negaram quando pedi. Mas já rolou e é bem comum que, ao pedir carona a um conhecido, alguma justificativa sem muito sentido seja a resposta. “Tenho que ir para casa antes”, “preciso buscar minha mãe em X lugar” ou “vou tomar banho e vou depois.
Vou chegar mais tarde e não vai dar tempo” são algumas das respostas. Isso já aconteceu comigo e provavelmente você tem uma experiência parecida. Difícil saber se realmente não era possível que seu amigo te ajudasse.
Mas em algumas dessas situações eu já disse que ajudaria na gasolina e que não era para se estressar. Nesse caso, a resposta pode mudar um pouco. É claro que eu sempre ofereço ajuda se alguém me dá carona, mas em algumas vezes é bom falar isso para que o outro possa ouvir e ter a confirmação.
Mas como você não tem carro?
Quando vendi meu carro, em 2018, a maior dúvida dos possíveis interessados era qual carro eu iria comprar depois que conseguisse vender meu Palio 97. Esse Fusca lindo da foto foi o carro que tive antes desse Palio. Quando respondia que não iria comprar nenhum e sim andar a pé e usar transporte público ou carro de aplicativo, o olhar das pessoas era de espanto. Não sei até hoje se alguém acreditou nisso. E muitos retrucavam com frases do tipo: vai ficar sem carro? Mas como assim?
Como se fosse impossível ter pessoas no mundo sem carro. E não foi apenas na hora da venda. No dia a dia essa conversa segue acontecendo. Agora faz mais tempo, até por conta da pandemia. Mas não era incomum me questionarem quando eu ia comprar um carro, se eu estava pensando no assunto e qual modelo eu gostaria de ter. Sem eu sequer ter cogitado isso, o meu possível futuro carro se tornava um assunto.
Eu acredito que as propagandas que vimos desde a infância de que somos “apaixonados por carro, como todo brasileiro” entraram na mente das pessoas de forma profunda. Porque não pode ter outra explicação para tamanha fixação. Parece impossível ser uma pessoa que não tem e não pensa em ter um carro atualmente.
A falta de um transporte público eficiente
Para ir até outros bairros da cidade ou até outras cidades, um transporte público de qualidade faz muita falta. Nesse momento pandêmico nem é recomendado andar de ônibus e aqui na região há anos discutem sobre a volta do metrô, que até agora não está nem perto de sair do papel. A maioria das pessoas no país não tem carro, por mais estranho que isso possa parecer. Mas a realidade foi tomada por pessoas que utilizam carro e acreditam que não conseguem mais viver sem esse meio de transporte.
Mas qual a avaliação?
Sou um adepto do discurso de não ter carro. Minha vida financeira melhorou depois que passei a não ter mais um veículo inclusive. Se colocar na balança, fazendo aqueles cálculos em calculadoras que te dizem se vale ou não vale a pena, na maioria das vezes a resposta vai ser: não tenha um carro. E a tendência é que isso seja cada vez mais forte.
Estive em São Paulo nos últimos anos mais de uma vez e concluí que ter um carro naquela cidade é uma loucura, porque o trânsito é assustador. Ao mesmo tempo, o metrô funciona bem, é rápido e te leva para a maioria dos lugares. Em grandes cidades isso funciona melhor.
De moro geral, ter um carro facilita muito sim a vida. Te dá autonomia e te faz ganhar tempo. Dependendo do caso, entendo quem opta por ter um carro. Mas continuo achando que vender o carro e andar de transporte público depois da pandemia ainda vai valer a pena, especialmente financeiramente.
Aguardo o trem para resolver a minha vida.
Se você gosta dos meus textos e do conteúdo aqui do blog, considere me apoiar. Criei uma campanha no Catarse que tem mais informações. A partir de R$5 você já consegue fazer seu apoio.
Aqui o link com todas as informações: catarse.me/dieversoncolombo