Sobre conversas difíceis

Nos últimos meses a vida me colocou em teste por várias e várias vezes. Tive que tomar decisões, me entender mais como profissional, homem, ser humano. Isso acontece o tempo todo, claro, mas em alguns momentos fica mais intenso.

Dentro de todos esses desafios da vida adulta temos que lidar com as conversas difíceis, mas sempre necessárias. Seja com seu namorado ou namorada, marido ou esposa, seus pais, filhos, familiares, amigos ou pessoas do trabalho.

E percebo cada vez mais o quanto tentamos evitar essas conversas, por mais que a gente perceba que são extremamente necessárias e importantes. Os motivos são variados e dependem de cada pessoa. Mas entre os principais estão medo, insegurança, medo do novo, da rejeição, da falta de empatia do próximo ou ansiedade por não saber o que nos espera.

Recentemente eu precisei pedir ajuda para a minha mãe em uma situação específica da minha vida. Por alguns dias, fiquei apavorado, tenso, nervoso, ansioso e muito inseguro em pedir essa ajuda, em contar a ela o que estava acontecendo. Medo de sua reação, de um possível julgamento, de uma possível discussão entre nós. Alimentei por vários dias todos esses medos.

Eis que chegou o dia em que chamei minha mãe para conversar. Todas essas angústias continuavam dentro de mim. Ela veio me visitar, conversamos, expliquei toda a situação e a sua recepção foi extremamente tranquila. Sem brigas, sem julgamentos nem nada negativo.

Esse é um exemplo recente que aconteceu comigo e me fez refletir e perceber que às vezes criamos cenários horríveis em nossa mente, quando na verdade na prática o que acontece não chega nem perto do que pensávamos. Ansiedade, sim. Medo e insegurança também.

Mas me fez pensar o quanto conversas difíceis são necessárias e podem ter resultados até melhores do que imaginamos. O contexto, o momento e a forma com que falamos é o que vai fazer toda a diferença.


Precisamos enfrentar. Evitar vai ser pior


Esse tipo de situação pode acontecer para praticamente qualquer assunto. Imagine que você está insatisfeito com seu relacionamento afetivo, mas fica guardando esse sentimento, sofrendo, mas não compartilha com seu companheiro ou companheira. Ou uma amizade está se tornando tóxica e difícil, mas com medo de gerar uma grande discussão você prefere não falar nada e deixar as coisas da forma que estão.

Essa conversa, que possivelmente resolveria ou iria auxiliar a acalmar toda a situação, é adiada ao máximo. Mas em algum momento vai precisar acontecer. Em algum momento todos esses sentimentos vão estar tão intensos que não serão mais suportados. E com isso vamos falar tudo que estamos sentindo, toda nossa mágoa, tristeza e angústias relacionadas com o tema que pode sair de nossa boca de forma agressiva, intimidadora e com alto tom de voz, o que vai acabar gerando uma grande briga e não vai auxiliar em nada a situação. Só vai piorar. Nossa possível falta de controle e de capacidade de lidar com todas as emoções naquele momento vai ser o foco de toda a conversa e não o que realmente precisava ser conversado.

Vamos estar de cabeça quente, julgar o outro o tempo todo, criticar e perder totalmente a razão. Ou seja, evitar conversas difíceis não vai ajudar em nada e pode piorar, e muito, a situação.

No âmbito profissional isso também pode acontecer. Imagine que você está insatisfeito com seu trabalho, com os rumos da sua carreira. Pensa que seria uma boa ideia conversar com seu chefe e falar para ele o que está sentindo. Mas prefere não falar por medo, insegurança, pânico de ser demitido e ficar sem trabalho por conta dessa conversa. E vai guardando essa mágoa, essa inquietação sem falar nada. É possível que aos poucos, mesmo sem perceber, seu rendimento no trabalho diminua. Você passa a alimentar sentimentos negativos pelo seu chefe, pela empresa em que trabalha e pelos colegas.

Todo esse sentimento só aumenta com o passar do tempo. E isso começou porque você achou melhor evitar a conversa difícil que seria interessante para a sua vida profissional. Até que ou você vai guardar todo esse sofrimento e vai ser muito difícil, vai sofrer sozinho e se sentir até mal fisicamente, ou em algum momento vai estourar com seu superior e falar coisas que não deveria. Simplesmente porque lá atrás quis evitar uma conversa que, talvez em poucos minutos, seria o suficiente para resolver a questão.

Ao evitar uma conversa difícil, nos alimentamos de todas as angústias que envolvem o assunto que não foi conversado, aumentamos a pressão em nós mesmos e criamos teorias que, na maioria das vezes, não fazem nenhum sentido. Só em nossa cabeça por alguns momentos parecem ter alguma explicação.

Então o melhor a ser feito é enfrentar, encarar a situação e resolver da melhor forma. Afinal, somos adultos e maduros, certo?

Na teoria, sim. Mas sabemos que na prática a história pode ser diferente.


Como, de fato, ter conversas difíceis


O diálogo nesses casos é capaz de resolver 99,9% das situações, segundo meu próprio levantamento. Mas que acredito que você vai concordar com essa estimativa. Mas por vezes o estresse do dia a dia, as preocupações e a falta de paciência nos atrapalham.

O primeiro ponto que merece atenção é escolher talvez um momento mais apropriado. Se você sentir que em determinado dia não está pronto para falar, não fale. Simples assim. Claro que desde que não adie a conversa por um tempo interminável. Mas todos nós temos dias que não são agradáveis e que torcemos para que terminem logo. Então não tem problema aceitar e entender isso.

Nas minhas pesquisas sobre o assunto consegui encontrar outra dica que vai ajudar e muito nessas situações. Normalmente, ao começarmos uma conversa difícil, focamos muito no outro. Os erros que a outra pessoa cometeu, a forma que se comportou, como deveria ter feito essa e aquela situação. O outro sempre é o problema. E uma dica não só para esses momentos, mas para a vida no geral, é focar em nós mesmos ao conversar. Explique para a pessoa qual o seu sentimento, como você vê a situação, como poderia melhorar, de que forma tornaria a vida mais fácil ou mais prática (dependendo do assunto que está em jogo) e mostre como essa questão delicada mexeu com seus valores.

Normalmente costumamos apontar o dedo para o outro, julgar e criticar. Mas há uma enorme diferença quando falamos como isso mexeu com a gente, se nos sentimos desrespeitados ou ignorados e porque achamos que isso aconteceu. Você está relatando como se sente e não criticando o outro logo de cara. Agir dessa forma evita até uma possível tensão maior e deixa a conversa muito mais fluída e leve.


Escolha suas batalhas


Sabe aquela frase que é melhor ser feliz do que ter razão? Ela serve para muitos casos. Cada vez mais percebo e tenho tentado aplicar isso em minha vida. Algumas pessoas têm convicções que demoraram anos para construir, para pensar daquela forma. E que não vai adiantar de nada a tentativa de conversar sobre o assunto e mostrar um ponto de vista diferente.

Pense bem quais são as suas batalhas, quais assuntos e áreas de sua vida que realmente precisam de debate, de maior atenção ou que valem a pena uma discussão (no bom sentido). Mas a dica é escolher poucas batalhas. Falo por experiência. Saiba quais são seus princípios, o que realmente te importa. O resto? Relaxe, dê um tempo do assunto pelo menos. Não use toda a sua energia para algo que não vai ajudar em nada e só vai gerar uma briga desnecessária. Tente adotar essa e depois me conte se está conseguindo colocar em prática.

Pesquisando você vai encontrar infinitas sugestões de como ter conversas difíceis, como se preparar para elas e de que forma ter sucesso nesses momentos. Mas talvez o mais importante seja entender se de fato essa conversa que você está adiando vai ser difícil, se é necessária e a importância para você e para a outra pessoa de não adiar a vida, não empurrar tudo para debaixo do tapete e fingir que está tudo bem. Com isso claro vai ficar mais tranquilo e talvez você sequer tenha mais conversas difíceis e sim apenas boas conversas.




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Olá. Meu nome é Dieverson Colombo, tenho 32 anos e definitivamente não consigo me apresentar em poucas palavras. Mas para você não ficar mais confuso, posso te dizer que me formei em jornalismo, já fiz muita coisa para conseguir pagar as contas, sou escritor e publiquei meu primeiro livro em 2019. Também gosto muito de ouvir e produzir podcasts e por isso você vai encontrar conteúdos nesse formato por aqui.

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