Existe uma aura em torno do escritor. Quem escreve é visto como intelectual, uma pessoa inteligente e culta. E isso chama a atenção. Na verdade isso não passa de uma grande bobagem. Uma ideia inventada que não faz nenhum sentido.
Nos últimos meses isso esteve de forma ainda mais forte na minha vida e percebo o quanto é interessante conversar sobre o tema também.
Vamos refletir um pouco e espero que você, ao final da leitura, entenda melhor sobre a questão.
O escritor é foda
Quando estou conversando e uma pessoa descobre que sou escritor, que já publiquei um livro, é comum que o tom da conversa mude. Palavras abreviadas, emojis e frases soltas ficam em segundo plano. De repente sinto que estou em uma conversa oficial, como se estivesse enviando um ofício para a prefeitura ou o governo.
Acontece também da pessoa que está conversando comigo pedir desculpas pelos erros de português e dizer que está insegura por estar conversando com um escritor. Sem falar praticamente nada, deixei a outra pessoa insegura. Não consigo ver o lado positivo de tudo isso.
Não é incomum ouvir perguntas relacionadas com a inspiração. “Mas de onde vem a inspiração para você escrever?”
Ou até as dúvidas mais clássicas, como: onde você anota suas ideias?
As respostas são sempre as mesmas. A inspiração vem da vida, de momentos variados e observações do cotidiano. Já a questão de anotar as ideias talvez já tire logo de cara a visão de qualquer tipo de glamour. Seria lindo dizer que tenho um bloco no bolso e anoto todas minhas ideias, pensamentos e reflexões sempre que penso em algo. Quando, na verdade, escrevo no celular mesmo ou no computador.
Recentemente estava almoçando com meus pais. Meu pai comentou que queria me visitar para ajudar em questões estruturais do meu apartamento, aquelas reformas que todos precisamos fazer. Eu falei que sim, que era só combinar.
Prontamente, minha mãe respondeu: não vai durante a semana porque ele escreve.
E então minha mãe, uma pessoa muito simples e humilde, me fez ficar sem reação. Ela também tem essa ideia na cabeça de que o escritor, a pessoa que escreve, precisa de mais concentração, mais atenção e respeito na hora de trabalhar. Nem respondi ela nesse dia porque de fato não sabia o que poderia responder.
Estive solteiro por alguns meses. E com isso visitei os famosos aplicativos de relacionamento. Precisava me apresentar de alguma forma, dizer quem eu sou em poucas palavras. Sempre deixei claro e com orgulho que sou escritor, que escrevo sobre o mundo e assuntos que considero importantes.
Por isso tive muitos exemplos recentes do que estou comentando agora. As conversas começavam com os dois pés atrás, com muitas inseguranças e medos.
Não demorava muito para que percebessem que eu sou uma pessoa normal, cheia de problemas, inseguranças e questões, assim como qualquer outra. E em algumas vezes, nesses momentos, até o interesse inicial deixava de existir. Era como uma queda, uma frustração.
Escrever é como qualquer outra profissão
Sim, para escrever bem precisa de técnica. De prática. Quem escreve melhor é quem lê muito. Isso está interligado. Tem a parte da inspiração, mas que não é o mais importante. Sobre o dom, já não sei se acredito que de fato exista. Vejo como 95% esforço, prática e persistência e os outros 5% podemos pensar que entra a inspiração, o dom ou qualquer coisa do tipo.
Trabalhos relacionados com arte, e considero a escrita uma forma de expressão artística, tem todo esse lado místico de algumas pessoas acharem que é de fato para poucos ou para quem tem algum dom ou talento especial. O que na teoria é lindo, mas na prática não faz lá tanto sentido.
Tenho familiares que são advogados e são muito inteligentes. Conheço psicólogos que tem uma inteligência acima da média. Minha namorada é contadora e acho ela mega inteligente. E são pontos que eu sempre penso quando lembro de toda essa glamourização em cima do escritor. Você deve conhecer pessoas inteligentes em todas as profissões. E é claro que isso é absolutamente normal.
E não, esse texto não é para que você passe a desvalorizar o meu trabalho e de todos os escritores. Mas sim para entender que não temos nada de especial e fora do comum e sim que somos humanos com defeitos, qualidades e uma vida mais ou menos parecida com a sua em alguns aspectos. Mas que escrevemos, dominamos a parte técnica da escrita e estudamos muito para aprimorar esse conhecimento.
Às vezes como hobby, como segunda profissão ou até como profissão principal. O que é mais difícil, mas acontece.
Valorize quem escreve
A maioria dos escritores tem um trabalho e usa a escrita como hobby ou um plano B. Isso é triste e parece até sem sentido, já que há todo esse glamour em cima da profissão, mas ao mesmo tempo na prática é bem diferente.
A leitura é capaz de mudar o dia de uma pessoa, os pensamentos, transformar a vida de alguém, tornar o mundo um lugar melhor de se viver. Então valorize sim, e muito, quem escreve e vive ou quer viver desse importante trabalho para a sociedade. Sem glamourização nem nada do tipo.
Na próxima vez que souber de alguém que escreve, ler um bom texto ou conhecer um escritor, lembre-se disso. Que para nós é o mais importante.
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