Sobre a ansiedade

Escrevo esse texto como uma forma de terapia. Para voltar aqui várias e várias vezes para também ler e refletir sobre esse assunto.

A ansiedade é uma presença constante em minha vida e na de maior parte das pessoas. Então é provável que você lendo esse texto agora também seja ansioso em algum grau. Mas como não pirar com esse sentimento? E o que fazer para viver com mais tranquilidade? Será que é possível?

Vamos tentar entender um pouco agora. Porque é um tema extremamente necessário.

A ansiedade no dia a dia

Se você é uma pessoa ansiosa, certamente já ouviu aquela dica de que precisamos focar no presente, pois o passado já foi e o futuro ainda não chegou. Isso é lindo na teoria, mas na prática não chega nem perto da realidade da mente de uma pessoa ansiosa.

Na verdade, sentir ansiedade é uma reação natural do nosso corpo. Criamos uma espécie de expectativa pelo que ainda vai acontecer.

Em alguns momentos do dia sempre vamos experimentar essa sensação. Quando vamos encontrar alguma pessoa querida, viajar para aquele destino tão sonhado ou receber uma notícia, é claro que criamos uma ansiedade, imaginando como vai ser quando o evento que estamos pensando de fato acontecer.

Para algumas situações pode ser realmente interessante, porque tentamos nos antecipar especialmente a situações que podem oferecer algum perigo. É nosso instinto de sobrevivência falando mais alto. Mas não vivemos mais na selva e o mundo está muito diferente do que na época de nossos antepassados. Então essa sensação, na maioria das vezes, não faz sentido. E é aí que a ansiedade se torna um problema que pode ter grandes proporções.

O medo do desconhecido está muito atrelado a isso, porque como não sabemos ainda o que vai acontecer, temos em nossa mente as experiências do que já aconteceu. E normalmente nos lembramos de momentos que não foram agradáveis. Ficamos nervosos, tensos e até evitamos alguns compromissos por conta desse misto de sentimentos.

Pior ainda pode ser quando sintomas físicos acabam surgindo e sua vida se torna um problema. Passo por isso algumas vezes e não é nada agradável. Coração acelerado, aquela sensação de que a garganta se fecha, falta de ar, dificuldades para dormir, muito calor ou muito frio de forma repentina. São várias as sensações possíveis.

Nós, pessoas ansiosas, costumamos aumentar muito o perigo de determinadas situações e diminuir a nossa própria capacidade de lidar com elas. O que vejo que tem muita relação com a insegurança. Todos somos inseguros de alguma forma, mas no caso dos ansiosos talvez isso fique mais evidente.

Trazer mais informações sobre isso talvez não seja necessário, já que é um assunto que conhecemos bem. Se você não se considera ansioso, deve conviver com alguém que seja. A maior questão certamente é como lidar com isso.

As dicas nem sempre ajudam

Se em outros assuntos a ideia de ter um passo a passo ou dicas para seguir não faz muito sentido, nesse caso da ansiedade isso é ainda mais evidente. Já sabemos que precisamos viver o momento presente, meditar e respirar fundo. Essas são dicas básicas que ouvimos o tempo todo e temos consciência da importância. A questão é como conseguir colocar em prática mesmo.

Pois para quem é muito ansioso, meditar, por exemplo, é impossível. Respirar fundo não vai ajudar em nada e viver o momento presente parece apenas uma sugestão qualquer.

Todas essas dicas de fato podem ajudar, mas é difícil para quem sofre muito de ansiedade conseguir de fato praticar. Nesse momento pensamos o que pode ser feito.

Devemos sim cuidar da alimentação, ter boas noites de sono e tentar, porque não é tão simples, ter uma vida mais equilibrada e organizada. Se você souber quais são seus compromissos para o dia seguinte, as chances de passar mal por conta da ansiedade diminuem, claro. Mas sempre podem ocorrer aqueles imprevistos, que acabam prejudicando nossa mente nesses momentos. E é para isso especificamente que precisamos nos preparar.

Faço terapia há mais de 10 anos e estou em tratamento da ansiedade com psiquiatra nesse momento. Mesmo assim, tem uma parte de todo esse assunto que somente eu posso tentar resolver de alguma forma.

Uma dica que estou seguindo e te sugiro caso seja possível colocar em prática foi a que minha querida psiquiatra me passou. Segundo ela, quando estiver me sentindo muito ansioso, mas naquele nível que chego a ter sensações físicas, é para colocar o tênis e ir fazer um exercício físico. Faço caminhadas todos os dias e tenho ido correr no parque algumas vezes quando sinto isso mais forte, o que de fato tem me ajudado.

Importante também pensar na possibilidade de ficar um pouco menos nas redes sociais. Sei que isso pode ser tão ou mais difícil do que respirar fundo e meditar, mas cada vez mais necessário. Ficar o tempo todo acompanhando atualizações, vendo onde aquela pessoa que você segue está ou se tem uma nova mensagem te esperando é a certeza de ansiedade das fortes.

E por mais clichê que seja, não posso deixar de falar da importância de procurar terapia. Um profissional da saúde mental vai conseguir te auxiliar e te mostrar caminhos que sejam de acordo com a sua realidade e sua vida, além de avaliar a necessidade de ajuda com medicamentos dependendo da situação.

Como um ansioso em tratamento, acho que precisamos conversar mais sobre esse assunto, de forma aberta mesmo. Sinto que isso não é comum e ainda motivo de alguns preconceitos, o que só dificulta a recuperação de nós, pessoas ansiosas. Não tem problema conversar sobre isso, assumir sua ansiedade e o incômodo que ela está te causando, além de buscar ajuda de alguma forma quando necessário.

Vivemos em um mundo onde assumir uma questão que nos incomoda ainda parece um problema. E por isso vamos na maior parte das vezes escondendo os sintomas, o que não ajuda em nada para nossa qualidade de vida.

Se só pudesse deixar uma reflexão ou você só lembrasse de uma parte desse texto, seria justamente essa: vamos tentar levar o tema da ansiedade a sério e sem julgamentos. Isso é fundamental.

E, como disse, também estou nesse caminho. Voltarei aqui muitas vezes para reler esse texto e refletir sobre esse tema tão sensível, mas tão importante.

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