Sobre ter esperança

Já falei várias e várias vezes que não acredito que a situação no mundo vai melhorar muito nos próximos anos. Infelizmente ainda teremos casos de pessoas que não respeitam o próximo. E isso pelos mais variados motivos. Ainda teremos intolerância, falta de respeito, insegurança e educação deficitária no curto e médio prazo.

É claro que com o passar dos anos alguns desses pontos melhoraram um pouquinho. Mas, aos poucos e depois de muito sofrer, fui pouco a pouco perdendo aquela esperança de que um dia viveremos em um país de primeiro mundo, que a educação será prioridade, onde não vai mais ser necessário sair com medo na rua, o preconceito e o racismo deixarão de existir. Não consigo imaginar mudanças significativas no futuro próximo (tomara que eu esteja muito errado).

Mas tem algo que mexe e muito com a nossa esperança: eleições. Sim, essa bendita (ou não) época que bate à porta de dois em dois anos e faz com que todos precisem tomar decisões importantes. Em quem votar, que projeto para o futuro escolher ou qual o menos pior. O que nos últimos anos parece ser o que mais acontece.

Não importa o que aconteça, em que cidade você mora, o que o prefeito, governador, deputado, senador ou presidente fez nos últimos anos. Não importa quem sejam os candidatos e quais as propostas. Chega a época de eleição e um sentimento sempre acaba aflorando um pouco mais: a esperança.

Muito citado inclusive nas campanhas eleitorais, esse sentimento volta e meia reaparece.

A esperança de um mundo melhor, uma cidade, estado ou país melhor para viver. Ou, pensando de forma mais ampla, a esperança para qualquer área de nossas vidas: melhores relacionamentos, mudança de trabalho, aumento de salário, mais conforto, menos gastos todos os meses.

Sempre há uma pontinha de esperança, nem que seja lá no fundo, em todos nós.

É claro que assim que começar a Copa do Mundo, como é comum, a situação do país e do mundo fica de lado por um mês. Não que as pessoas esqueçam completamente ou tratem o futebol como mais importante. Mas a Copa acaba servindo de fato como aquele momento de esquecer um pouco dos problemas.

Mas deixemos isso de lado para focar na esperança.

Não importa em quem você vota. E esse não é o foco aqui. Mas de fato as eleições são muito simbólicas.


Refletindo mais sobre o assunto


Para entender melhor sobre esse assunto, mais uma vez pedi ajuda para a minha querida amiga e psicóloga Renata Garcia. Queria entender melhor esse sentimento e refletir um pouco mais sobre todas essas sensações que esse momento tão particular causa.

Segundo Renata, nosso cérebro acaba se motivando quando tem um marco que deixa o passado para trás e mostra a esperança de um novo, mesmo que de forma simbólica.

“Tudo que é marco de mudança, mesmo que seja uma mudança simbólica, nos traz a sensação de recomeço.
Aniversário, ano novo, eleição, volta de férias, até mesmo as segundas-feiras. Em tese temos essa possibilidade todos os dias, mas esse simbolismo tem muito mais força por separar concretamente uma “fase” da outra (a nova da velha).”


Essa nova fase nos permite fazer diferente, começar de novo, tentar escolher outros caminhos e isso, segundo ela, nos ajuda a ter mais esperança.

“E as eleições vêm com esse espírito de mudar, muda o governante, muda tudo. Traz muitas promessas. Acabamos projetando nessa nova pessoa tudo que o outro não fez e a gente quer que faça. E fazemos isso com relacionamentos também, não?”

De fato relacionamentos também tem a ver com isso, porque assim como acabamos fazendo algumas vezes ao nos relacionarmos, na política acabamos projetando expectativas no outro em busca de uma mudança, uma melhoria em nossas vidas.

Fiquei pensando muito nisso depois que conversei com a Renata, que também disse que é mais fácil sentir essa esperança se os candidatos forem pessoas que nos gerem identificação, que a gente goste.

“Mas essa esperança pode se diluir com o tempo, porque a gente entra na realidade. As coisas vão acontecendo, vamos entrando na rotina e aí meio que passa”, acrescentou a Renata na nossa conversa.

Ela também lembra que pode ser até uma certa ilusão nossa de querer algo que de fato ainda não existe. Fantasiar algo que gostaríamos que fosse diferente. Que tem a ver com a fé de que as coisas vão ficar melhores, o mundo se tornar um lugar melhor.


Lidando com todo esse sentimento


De fato ter esperança é algo positivo, saudável. Todos devem concordar. Mas, especialmente nesse período de eleições, em que os sentimentos podem ser ainda mais intensos, a frustração pode ser ainda maior depois. Como disse a Renata, com o tempo entramos na realidade, vamos voltando com a nossa rotina sem eleições e talvez até mais frustrados do que antes.

Confesso que mesmo sabendo de tudo isso e refletindo bastante, esse sentimento aflora muito em mim durante esses períodos. Esse ano em particular ainda mais, o que me fez parar e pensar muito para escrever esse texto.

Independente de quando está lendo, esse conteúdo pode fazer sentido. Sempre teremos eleições e momentos que vão despertar mais essas emoções.

O que podemos fazer de fato é sim sempre pensarmos e avaliarmos com calma e carinho todo o cenário, as eleições e a oportunidade que sempre temos de votar e mudar a situação que estamos.

Até poderia dizer que talvez, para evitar um sofrimento maior, ter menos esperança seria a saída. Mas não sei se para você que está lendo isso é de fato possível. Porque é um sentimento muito forte quando aparece em nossas mentes.

Claro que, assim como já disse em outros textos, a expectativa sempre acaba se tornando um problema, porque idealizamos muito algo, criamos muita expectativa. E depois disso vem a frustração. Talvez esse de fato seja o nosso grande trabalho, nossa busca: lidar melhor com as expectativas.

E acrescento aqui o fato de não sofrer tanto, aprender a lidar com frustrações. O que seria ótimo. E terapia, nesse caso, é a melhor recomendação que posso dar.



Se você gosta dos meus textos e do conteúdo aqui do blog, considere me apoiar. Criei uma campanha no Catarse que tem mais informações. A partir de R$5 você já consegue fazer seu apoio.
Aqui o link com todas as informações: catarse.me/dieversoncolombo

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Olá. Meu nome é Dieverson Colombo, tenho 32 anos e definitivamente não consigo me apresentar em poucas palavras. Mas para você não ficar mais confuso, posso te dizer que me formei em jornalismo, já fiz muita coisa para conseguir pagar as contas, sou escritor e publiquei meu primeiro livro em 2019. Também gosto muito de ouvir e produzir podcasts e por isso você vai encontrar conteúdos nesse formato por aqui.

ENCONTRE SEUS INTERESSES:

Fale comigo